Construção Civil investe em sistemas de reuso das “águas cinzas” e aproveitamento da água da chuva no canteiro de obras
Como uma das frentes de superação da crise hídrica, parte do setor da construção civil já aproveita águas residuais em empreendimentos “verdes”, prática que deve ser estimulada em todo o país com a publicação da Lei Federal 14.546/23.
Entrou em vigor, no mês de abril, a Lei Federal 14.546/23, que prevê, entre outras medidas, que o poder público estimule o uso de água da chuva e reaproveitamento das águas cinzas em novas edificações urbanas residenciais e comerciais, além da indústria e do agronegócio. Influenciado pela “onda verde”, o setor da construção civil nacional já começa a incorporar as cisternas de captação pluvial como item habitual nos novos empreendimentos. Além disso, ainda de forma incipiente, passa a adotar os sistemas de reuso de águas residuais como item de sustentabilidade prioritário, com o objetivo de reduzir o desperdício e gerar economia para o consumidor imobiliário.
Em Curitiba (PR), a incorporadora AGL está construindo o segundo empreendimento da marca com sistemas de tratamento e reuso de águas cinzas, que são aquelas usadas em pias e chuveiros. Depois do New Town, entregue em 2020, o novo residencial da AGL, New Urban, também será referência no uso racional dos recursos hídricos. Os empreendimentos da incorporadora são os únicos multirresidenciais da capital com esse diferencial. O projeto do edifício prevê o uso de metais sanitários com controle de vazão e a instalação de estação de tratamento de águas cinzas dentro do condomínio. Além disso, a incorporadora adotou o aproveitamento de águas pluviais já no canteiro de obras. Com entrega prevista para 2024, o empreendimento está em processo de certificação de sustentabilidade e deve conquistar o selo GBC (Green Building Council) Condomínio, que considera, entre outros itens, as soluções de uso racional da água.
De acordo com o engenheiro civil e sócio da AGL, Giancarlo Antoniutti, o consumo de água durante as obras fica em torno de 200 a 250 litros para cada m². E, para fazer a compactação de um metro cúbico de aterro, podem ser consumidos até 300 litros. Por isso, o desafio de reduzir o consumo de água, como medida de enfrentamento à crise hídrica, deve começar na etapa da construção. “A construção civil está entre os maiores consumidores de água tratada do planeta. Dados do Green Building Council mostram que o setor é responsável por cerca de 21% do consumo de água no mundo. Pensando nisso, decidimos instalar a cisterna já no início da construção do New Urban. E esperamos reduzir o consumo de água potável na obra em até 15% com essa medida”, afirma.
O New Urban, que fica no bairro Novo Mundo, terá o sistema regular de aproveitamento da água da chuva, que, em Curitiba, é obrigatório para novos empreendimentos desde 2007 (lei 10.785/03), para limpeza de calçadas e rega de jardins. Além disso, será um dos poucos multirresidenciais da capital com tratamento de águas cinzas. O sistema de reuso de águas residuais que será instalado no edifício é composto por tubulação exclusiva para o lançamento da água usada nas pias, chuveiros, tanques e máquinas de lavar roupas e louças de todas as unidades. As águas cinzas serão enviadas para a estação de tratamento que será implantada dentro do próprio condomínio, para desinfecção e reutilização na lavagem das áreas de uso coletivo e descargas dos vasos sanitários dos apartamentos.
Segundo o engenheiro e gerente de planejamento da AGL, Vinícius Hanser, esse último uso, até certo ponto incomum, é de grande valia para a redução do consumo de água potável nas unidades habitacionais, o que deve impactar nas contas de água dos futuros moradores. “Se uma família formada por quatro pessoas consome, em média, 10 mil litros de água potável por mês, 1440 litros deste total são gastos pelo sistema convencional de descarga. Com o reuso das águas cinzas, a economia pode chegar a 15% do consumo total”, explica.
Além da implantação da infraestrutura, a incorporadora vai orientar os futuros moradores sobre os cuidados necessários para o bom funcionamento do sistema de reuso de águas residuais. As instruções serão incluídas no manual do proprietário do New Urban, assim como aconteceu no New Town. No empreendimento já entregue pela incorporadora com o sistema, o percentual de economia de água dos moradores chega a 22%. “É importante orientar os proprietários, já que o sistema é projetado para receber apenas águas provenientes de chuveiros e lavatórios. Portanto, nestas tubulações específicas, não se deve despejar esgoto sanitário ou gordura, resíduos de tintas, thinner, aguarrás, óleo, combustíveis em geral, como diesel, gasolina e etanol, além de corantes industriais. Isso porque essas substâncias podem danificar os componentes do sistema de tratamento”, ressalta Hanser. Outra norma importante a ser seguida pelos condôminos, segundo o engenheiro, é não fazer alterações na rede de esgoto de lavatórios e de chuveiros, evitando o comprometimento do sistema projetado apenas para as águas cinzas.
Sobre o New Urban
O projeto do New Urban segue os preceitos da gestão construtiva responsável e prevê subsolo único, para remoção de menor quantidade de terra (preservação do solo) e também o uso de materiais construtivos de procedência certificada, que não contêm produtos químicos que possam ser prejudiciais à saúde dos moradores. Além disso, a logística das obras prevê a redução do impacto ambiental com a geração de resíduos da construção civil e a destinação correta dos mesmos.
Com 84 unidades, de dois e três quartos, o New Urban é o sexto empreendimento da AGL em Curitiba. Com projetos fotovoltaico, de reuso de água, eficiência energética, conforto térmico e acústico, o residencial é o primeiro de sua categoria em processo de certificação GBC Condomínio (Green Building Council) no Paraná.
O empreendimento terá painéis de captação de energia solar instalados no topo do edifício, que vão abastecer parte do consumo de energia nas áreas comuns do condomínio. O projeto luminotécnico inclui sistema de sensores de presença em todas as áreas comuns, opção pelas lâmpadas de LED e projeto arquitetônico que otimiza o aproveitamento da luz natural nas unidades e espaços de uso compartilhado. O New Urban também adota tecnologias para conforto térmico e acústico, que incluem esquadrias que reduzem a troca de calor e os ruídos, além de manta acústica nos pisos. Além disso, foram executados estudos lumínicos para o empreendimento, visando o melhor aproveitamento da incidência solar em todas as unidades.
O New Urban está em construção na rua João Bonat, 63, no bairro Novo Mundo, entre a Antônio Gasparin e a avenida República Argentina. A entrega da obra está prevista para junho de 2024.